Uma criança bem pequena usa papel, lápis de cor, giz de cera, e vai desenhando sem medo. E, aqueles, então, "rabiscos" que ela mostra com tanto entusiasmo aos adultos, dá nomes, pois desenha cenas do cotidiano, desenha animais que ela tanto gosta, avião, carro, arco-íris e tantas outras coisas que a imaginação e a criatividade dela a leva fazer.
Isto, porque a criança pequena, não tem ainda bloqueios artísticos. Ela desenha livremente, sem medo, sem pressão, sem achar que seu desenho esta realista ou não, ela simplismente enxerga o que ela criou, mesmo que seja diferente da forma real, se alegra, se realiza e tem prazer por ter concretizado, usando e multiplicando sua criatividade. Ela tão simplismente flui. Há liberdade. Há criatividade. Há imaginação.
Já, em adultos, toda essa liberdade de se expressar foi dispensada. Houve em algum momento um corte da linha de imaginação artística; esta, que consegue extravasar e ir além da ideia somente, mas incorporando-se e materializa-se no papel. E isto se dá, a medida que crescemos. Pois, nos é colocado margens nas folhas, e imposto "cores certas" para o céu, o sol, para a folha da árvore, que "precisa" ser verde. Não estou aqui dizendo que não podemos ensinar as cores certas para as crianças. Isto é necessário e normal, mas o errado está em limitar quanto as experimentaçoes infinitas, podar a imaginacao e manipular.
Muitas vezes, nas escolas, nos forçam a fazer "trabalhinhos artísticos" "bonitinhos", simétricos, cópias que na verdade são para agradar a vista dos leigos adultos já bloqueados que insistem em achar que Arte é somente o realismo ou "isto, ou aquilo" que nem mesmo sabem bem explicar, mas que na verdade é seu gosto pessoal, o que acreditam ser o certo. Pois a simetria, o belo, e as formas bem equilibradas de alguma forma nos impreguina, e tudo que é bem próximo ao real trás uma certa sensação de bem estar, não precisamos gastar energia pensando ou imaginando, já vem pronto. E, parece que este ciclo não ter fim.
Assim, acontece, e o indivíduo é aos poucos paralisado na criatividade livre e encaminhado rispidamente para o lugar de bloqueio. E daí, tudo torna-se difícil demais, ou quase impossível.
Muitas vezes levando essa opinião e inibição para áreas diversas da vida a pessoa diz, eu não tenho o dom.
Realmente, eu concordo que nem todas as pessoas têm o mesmo dom para fazer as mesmas coisas, isto é óbvio. Nem todas farão obras de arte, nem todas terão habilidade para desenvolver trabalhos artisticos e focar neles. Porém, acredito, que todas as pessoas podem sim, desfrutar do desenho, como volta ao fluir de sua "inocência artistica", vou chamar assim. Mas, que na verdade é a liberdade em imaginar, agir e concretizar. O prazer do fazer algo que ultrapassa a margem da imaginação, e, que também não precisa ser igual e "perfeitamente" construído como o real.
Existe porém, um trabalho a ser feito para que este desbloqueio aconteça. E este, é o resgate. Este é o desafio para que pessoas usem a arte também como remédio, cura e redirecionamento.
Débora S Araújo
